Autor: Mia Couto:
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 264
Ano: 2003
Sinopse: O estudante universitário Marianinho volta à ilha de Luar-do-Chão depois de anos de ausência. Seu retorno é um imperativo: ele fora incumbido de comandar as cerimônias fúnebres do avô Dito Mariano, de quem recebera o mesmo nome. Neto favorito do patriarca, o rapaz chega à ilha e se vê no centro de uma série de intrigas e de segredos familiares, que envolvem seu pai, Fulano Malta, a avó Dulcineusa, os tios Abstinêncio, Ultímio e Admirança, e também as nebulosas circunstâncias em torno da morte de sua mãe, Mariavilhosa. Marianinho logo descobre que o falecimento do avô permanece estranhamente incompleto e esconde desígnios que escapam à força dos homens - como tudo nessa enigmática Luar-do Chão.
Avaliação: 4/5 estrelas
Mia Couto é um dos mais
importantes representantes da literatura africana. Natural de Moçambique, o
escritor é conhecido mundialmente pelo seu trabalho na literatura. Mia chegou
até mim através da faculdade, já que uma das disciplinas que tenho é História da
África, sendo este um dos assuntos comentados. Um rio chamado tempo, uma casa
chamada terra me atraiu principalmente pelo título, e foi a escolha para
conhecer esse autor tão bem comentado.
Marianinho é um estudante
universitário que se vê obrigado a voltar a ilha de Luar-do-Chão quando recebe
a notícia da morte de seu avô. Chegando lá, descobre que fora incumbido de
comandar as cerimônias fúnebres do avô, Dito Mariano, de quem recebera o mesmo
nome. Considerado o neto favorito do patriarca, Marianinho é obrigado também a
se situar em meio a vários habitantes e intrigas que cercam aquela ilha, como o
seu pai Fulano Malta, a avó Dulcineusa, dentre outros. Além disso, a
situação piora quando ele passa a
receber cartas anônimas, que o conduzem na investigação da morte inacabada de
seu avô e de um crime que envolve toda a ilha.
Dó-i me a Ilha como está, a decadência das casas, a miséria derramada pelas ruas. Mesmo a natureza parece sofrer de mau-olhado. Os capinzais se estendem secos, parece que empalharam o horizonte. À primeira vista, tudo definha. No entanto, mais além, à mão de um olhar, a vida reverbera, cheirosa como um fruto em verão: enxames de crianças atravessam os caminhos, mulheres dançam e cantam, homens falam alto, donos do tempo. (p. 28)
Narrado em primeira pessoa, sob o
ponto de vista de Marianinho, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra começa no momento em que nosso
protagonista está para chegar em Luar-de-Chão. Quando completa seu percurso,
encontra um local totalmente diferente daquilo que estava acostumado.
Marianinho passara anos fora, e muitos dos valores que aprendera se perdera com
o passar do tempo. Logo nas primeiras páginas a narrativa de Mia Couto me causou um profundo estranhamento: repleta de frases curtas, o que soa muitas vezes um pouco poético.
Esse não é aquele livro que você
fica empolgado a ponto de querer lê-lo de uma vez só. Mia trabalha de modo
lento, explorando cada cena, incluindo aqui e ali alguma mensagem, ensinamento, principalmente através de metáforas.
O foco do livro é o enterro de seu avô, mas Mia aborda questões paralelas que
de certa forma, convergem no grande acontecimento. Mia explora seus personagens juntamente com suas tradições, como é o caso da avó de Marianinho, Dulcineusa: para ela, o neto não era capaz de assumir tal tarefa pois não vivia mais entre eles, ou seja, teria perdido suas tradições. Situando o leitor, a história se passa no continente africano
num período pós colonial. É a partir desse cenário que ele traz questões pertinentes e importantes: a perda das tradições de Luar-de-Chão. Como algo mais amplo, a maneira com que Mia discute essas questões é extremamente original: Marianinho se depara com Luar-de-Chão totalmente diferente daquilo que ele vira alguns anos antes, e as mensagens que o protagonista passa a receber de alguém desconhecido e as atitudes dos habitantes parecem comprovar apenas uma coisa: a morte lenta do vilarejo. Mas isso reflete apenas uma questão maior: o embate entre a cultura africana perante a cultura dos brancos.
Personagens tão complexos, que
muitas vezes me perguntava qual era o principal objetivo deles. E é justamente
essa complexidade que não me envolveu totalmente. Além disso, a história de Mia soa confusa em alguns instantes. Não consegui captar aonde ele
iria querer chegar com aquilo, ou com aquele personagem. Talvez se o livro
tivesse um pouco mais de ação em algumas cenas, a leitura teria fluido com mais
facilidade.
Com uma narrativa nem tão
tranquila, Mia me encantou e desencantou em seu primeiro livro (que leio). O suspense é um elemento que faz parte da história, mas não é aquele que te deixa ansioso para descobrir a solução: ele é trabalhado de maneira suave e devagar. Há
pontos positivos e negativos ao longo da história, mas mesmo assim, é uma
leitura que vale a pena ser feita. Já anotei outros títulos do autor para poder conhecer melhor a sua obra, dentre eles O último voo do flamingo e Venenos de Deus, Remédios do Diabo.
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