O mundo se despedaça - Chinua Achebe

terça-feira, 1 de abril de 2014 Marcadores: , ,

Título: O mundo se despedaça
Autor: Chinua Achebe
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 240
Ano: 2009
Sinopse: O mundo se despedaça conta a história de um guerreiro chamado Okonkwo, da etnia ibo, estabelecida no sudeste da Nigéria, às margens do rio Níger. O momento que a narrativa retrata é o da gradual desintegração da vida tribal, graças à chegada do colonizador branco. Os valores da Ibolândia são colocados em xeque pelos missionários britânicos que trazem consigo o cristianismo, uma nova forma de governo e a força da polícia. O delicado equilíbrio de costumes do clã vinha sendo mantido por gerações, mas então atravessa um momento de desestabilização, pois os missionários europeus e seus seguidores, africanos convertidos, começam a acorrer às aldeias de Umuófia pregando em favor de uma nova crença, organizada em torno de um único Deus. A nova religião contraria a crença nas forças anímicas e na sabedoria dos antepassados, em que acreditam os ibos. Além disso, os homens brancos trazem novas instituições: a escola, a lei, a polícia. Okonkwo, o mais bravo guerreiro do clã, é dos principais opositores dos missionários, mas ele não contava com a adesão à nova crença de muitos de seus conterrâneos, vizinhos e companheiros de aldeia. Entre eles está ninguém menos que seu primogênito, Nwoye. Também aderem à religião do homem branco aqueles que foram marginalizados pela sociedade tradicional, os párias ou osus, as mulheres, os jovens sem perspectiva. 
Avaliação: 4/5 estrelas
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O ano de 2014 tem sido um daqueles que tenho me dedicado a conhecer novos estilos de literatura (acredite ou não). Nos primeiros meses do ano já teve Bukowski, José Luandino Vieira e Mia Couto. Agora o autor da vez é Chinua Achebe, escritor nigeriano que nasceu em 1930, e escreveu dentre outros livros, O mundo se despedaça, motivo desse post. Por acaso, acabei colocando ele no desafio de março do Bola de Leitura, na categoria Drama e como país a Nigéria.

A história se passa em Umuófia, a aldeia mais temida de Ibolândia, terra do povo ibo, e o personagem central é o bravo lutador Okonkwo, um dos principais e importantes patriarcas da comunidade. Mas seu mundo, de repente, começa a ruir. Por razões internas, ligadas a rígidos códigos tribais, ele cai em desgraça dentro de sua própria tribo, e, logo em seguida, tem de lidar com uma nova e inesperada força: o colonizador branco. Esse contato, a principio caracterizado apenas por um certo estranhamento, com o tempo vai se tornando francamente conflituoso e dramático.

Como falar de um livro que a principio você esperava muito, mas que quando leu a primeira vez se decepcionou e leu a segunda vez e se tornou uma história confiante e verdadeira? Pois é, são meus sentimentos quanto ao livro. O mundo se despedaça foi uma leitura obrigatória para a elaboração de um seminário na faculdade, no contexto que estávamos estudando: o colonialismo em África. Engraçado que desde quando descobri a existência do livro, o que mais me chamava a atenção era justamente a imagem da capa e o próprio título. Na primeira tentativa com a história, ela não aconteceu da maneira que eu esperava. Acabei focando apenas no inicio e o final, o que influenciou um pouco na minha avaliação. Mesmo assim, tentei de novo, e me surpreendi com o livro. Depois da leitura, não pude dar margem e acredito que com certeza ambos combinam com a história. 

O livro começa nos contando sobre a vida de Okonkwo, destacando logo no inicio que ele era um dos maiores guerreiros, cujo titulo ganhara após vencer a batalha com o Gato. Aos poucos, conhecemos cada vez mais sobre sua vida e a sociedade em que ele vive. Percebo, de maneira geral, na literatura africana, a própria narrativa muda, de certa maneira, principalmente quanto a questão do tempo. São histórias com um ritmo mais lento, como se o autor aproveitasse de cada momento. Chinua Achebe não foge a risca. A narrativa tem poucos diálogos, o que acaba cansando em alguns momentos, somando ainda os nomes africanos, que soam estranhos para quem lê e não está acostumado. Apesar disso, conseguimos ter uma noção geral do funcionamento da sociedade, dando um enfoque em valores, como família, direito e ancestralidade, característica presente em diversas sociedades africanas. 


“Quando o povo estava todo reunido, o homem branco começou a falar. Comunicava-se com a ajuda de um intérprete, que também era ibo, (...). Muitos começavam a rir, achando engraçado o dialeto e a maneira esquisita que o intérprete empregava as palavras. (...) Disse-lhes que era um deles, como podiam comprovar pela cor de sua pele e pelo modo de falar; (...) que o homem banco também era um irmão, porque todos eram filhos de Deus. E então, começou a lhes falar sobre esse novo Deus, criador do mundo inteiro e de todos os homens e mulheres. Disse-lhes que eles adoravam falsos deuses, deuses de madeira e de pedra (...). Disse-lhes, ainda, que o verdadeiro Deus habitava nas alturas e que, ao morrerem, todos os homens teriam de comparecer perante Ele para serem julgados. Os homens maus e todos os pagãos, que, em sua cegueira, se prostravam perante deuses de madeira e de pedra, seriam jogados numa fogueira que queimava como óleo de palma. Porém os bons, aqueles que adorassem o Deus verdadeiro, viveriam para sempre em Seu reino de felicidade.” (ACHEBE, 2009, p. 164-165)

Mas o ponto máximo do livro é justamente o contato do africano com o colonizador, que acaba centrado na reta final da história. No entanto, antes já se faz alguma referência a ele, como uma pessoa que não tem pés (o homem branco usava sapatos). Chinua Achebe consegue refletir de maneira fundamental e bem factual esse contato, como se pode perceber no trecho acima retirado do próprio livro. Nele, é claro a visão do branco sobre a religião e os valores africanos, como sendo algo não verdadeiro e errada. É importante salientar que essa era visão da época, pois acreditava-se que o catolicismo era a religião correta.

A obra de Chinua Achebe nos encanta seja pela maneira em que nos conta a história ou seja pelos elementos presentes nela. O livro foi escrito em 1958, dois anos antes da independência da Nigéria e é considerado um marco da literatura do século XX. Como a própria sinopse do Skoob diz, Achebe parece não somente tentar mostrar ao mundo exterior as tradições culturais dos Ibos, mas principalmente lembrar seu próprio povo de seu passado e afirmar o valor deste, pois muitos africanos, no período em que o livro foi escrito, pareciam sempre prontos a aceitar o julgamento europeu que dizia que a África não tinha nenhuma história nem mesmo cultura. Recomendo!

1 comentário:

  1. Achei muito legal e interessante. Acho que é um livro para ser lido com calma, devagar e pensando.

    Fico contente de teres dado uma segunda chance e funcionado!

    liliescreve.blogspot.com

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